fevereiro 29, 2008

Patricia Azevedo Santos_




Sopro
Combustível queimado sobre papel, (5) 100x70cm, 2005/2008




Este é um trabalho sobre o corpo, sobre a falência do corpo, sobre a sua fragilidade e exposição sistemática às agressões, à sujidade; à sua corrosão, à sua corrupção, às patologias respiratórias, à carência e falta de ar.

Procurei encontrar um paralelismo entre corpo e suporte do desenho, o papel, enquanto lugares expostos de contaminação, de encontro, de contacto. Procurei auscultar a respiração e defini o sopro como metáfora do meu corpo. Desenhar tornou-se assim, contaminar.

Desenhei com o meu sopro como resistência, “usei o ar dos meus pulmões para desenhar”; usei a escapagem de automovel como metáfora do meu sopro e o papel em substituição do meu corpo.

fevereiro 06, 2008




Mobilidade relativa
Impressão sobre papel,2007


Interessaram-me as características gráficas da técnica laboratorial da electroforese na comunicação dos seus resultados, que (necessariamente) assumem uma notação gráfica, – do seu (ar)rasto e acumulação –, da forma, da densidade, da imagem e do desenho.
Para que os resultados complexos de um processo de decomposição molecular pudessem assumir uma codificação visível o desenho aparece. E a partir desse desenho se estrutura todo um raciocínio por imagens que permite descodificar esses mesmos resultados que, de outra forma, vislumbrar-se-iam inatingíveis porque inacessíveis à experiência cognoscitiva.

Na criação de uma metalinguagem interdisciplinar que transpõe as tradicionais fronteiras entre a Arte e a Ciência, um novo espaço de experimentação (partilha fundamental entre as duas áreas de conhecimento) surge, e as codificações e os procedimentos científicos (os géis de electroforese), adquirem uma nova dimensão no momento em que são desvinculados do seu contexto original e, deslocados, são trazidos para uma dimensão de outra ordem, a estética, ao se apresentarem enquanto imagens, apenas imagens.
Sob o escrutínio do olhar estético, da Arte, expostos enquanto objectos artísticos autónomos, descontextualizados da sua função de instrumento científico, deslocados do seu lugar de arquivo, os géis, assumem uma presença gráfica, e a complexidade dos seus significados científicos dá agora lugar à delicada beleza da malha visual do (seu) desenho, ténue e volúvel.

2006/07,PAS